Os sons mais característicos do mundo atual são, infelizmente, barulho, ruído.
O que ouvimos inspira a arte contemporânea através de propostas que incorporam, ao sentido da visão, a experiência auditiva. Não raro, essas experiências remetem nos sons da cidade, à velocidade, à dificuldade de comunicação, à superposição de vozes, ao grito... ao incômodo.
A arte nos diz: o som é uma dimensão que já não sabemos habitar. O silêncio, nossa utopia.
Há quem diga que os novos sinais de riqueza se mostram através da posse do tempo, do espaço e do silêncio. Os sons nos empobrecem?
Ainda temos a música e a palavra (bem) falada.
A palavra ao ouvido – o sussurro – é a nossa escolha. Gostamos deste espaço intermediário entre o som e o silêncio, onde estes extremos se tocam.
Inspiramo-nos no grupo performático francês Les Souffleurs (literalmente, Os Sopradores), que realiza intervenções em várias cidades do mundo sussurrando fragmentos de textos poéticos e filosóficos no ouvido das pessoas, numa tentativa de “desaceleração do mundo”.
“Comandos Poéticos” é a performance mais famosa dos Les Souffleurs e foi apresentada na cidade de São Paulo, na Virada Cultural de 2009, quando sussurraram poesia em praças e bibliotecas.
Como o grupo Les Souffleurs, usamos um tubo para sussurrar os textos. Optamos por reaproveitar tubos de papelão que, na nossa proposta, se tornam um objeto lúdico, belo e que recupera o gosto das brincadeiras simples de antigamente.
Propomos-nos a usar a poesia como delicado presente, que se leva da boca ao ouvido. Começamos pelas crianças, elas que estão sempre mais atentar e abertas. Brincamos de, por um instante, silenciar o mundo com um poema.
Aos poucos, vamos incluindo outras gentes que se disponham a interromper a tagarelice do mundo com segundo de poesia.