quinta-feira, 28 de abril de 2011

Resumo do texto: O ensino de Estratégias de compreensão leitora - AUTORA: Isabel Solé

O texto aborda as estratégias quem um bom leitor deve adquirir para que possa ter uma maior compreensão do texto. Mas, a autora ressalva que estas estratégias já estão em nosso consciente, pois a medida que vamos lendo estamos adotando uma estratégia de leitura.
A Autora cita as idéias de Valls (1980) que dia que a estratégia tem em comum com todos os demais  procedimentos sua utilidade para regular a atividade das pessoas, a medida que sai aplicação permite selecionar avaliar , permitir ou abandonar determinadas opções para conseguir a meta a que nos propomos.
As estratégias de leitura são procedimentos de ordem elevada que envolvem cognitivo e o metacognitivo , no ensino elas não podem ser tratadas como técnicas precisas, receitas infalíveis ou habilidades especificas.
O ensino de estratégias de compreensão leitora tem três idéias associadas à concepção construtiva. A primeira considera a situação educativa como um processo de construção conjunta entre professores e alunos que podem compartilhar progressivamente significados mais amplos e complexos. A segunda idéia é a consideração de que, nesse processo, o professor exerce uma função de guia, à medida que deve garantir o elo entre a construção que o aluno pretende realizar e as construções socialmente estabelecidas e que se traduzem nos objetivos e conteúdos prescritos pelo currículo em vigor em um determinado momento. A terceira utiliza-se da metáfora do “andaime” para explicar o papel do ensino com relação à aprendizagem do aluno. Assim como os andaimes sempre estão localizados um pouco acima do edifício que contribuem para construir, os desafios o ensino devem estar um pouco além dos que a criança já seja capas de dissolver. As idéias de Collins e Smith (1980) são citadas no texto, onde consta que existem três etapas que podem contribuir para uma compreensão leitora, são elas: Etapas do modelo, o professor serve de modelo para seus alunos mediante sua própria leitura onde o lê em voz alta, comenta as duvidas, lembra o que falava o capítulo anterior. A segunda etapa é a participação do aluno onde ele tem liberdade de perguntar e a terceira é a etapa de leitura silenciosa na qual os alunos realizam sozinhos as atividades que nas fases anteriores, efetuaram com ajuda do professor: adota-se de objetivos de leitura, prever, formular hipóteses, buscar e encontrar apoio para as hipóteses, detectar e compensar falhas de compreensão.
Em suma, as estratégias são importantes para estabelecer uma linha de raciocínio, fazendo que haja um maior entendimento da leitura.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Contos de Fadas

Para as crianças, pouco interesse há em conhecer a origem ou a simbologia dos contos de fada, ou a finalidade de cada um, se são antigos e quanta coisa mais.
A poesia desses contos, nascidas dos mais fortes e primários sentimentos gerais, é a que mais fala e desperta a sensibilidade dos jovens. E nessa poesia de maravilhas e sonho, sob a qual transcorre a ação de personagens tradicionais da mitologia popular, as crianças encontram os seres verdadeiros e os fatos reais de seu dia a dia. É nessa justaposição do maravilhoso poético com realismo doméstico, na mistura do fantástico e da intimidade familiar, que reside todo encanto e atração pela literatura.
Os contos de fadas começam onde a criança se encontra no seu ser psicológico e emocional. Falam de suas pressões internas graves, de um modo que ela inconscientemente compreende, e oferecem exemplos tanto de soluções temporárias quanto permanentes para dificuldades prementes.
As figuras nos contos não são ambivalentes. A convicção de que o crime não compensa é um meio de persuasão muito mais forte do que o castigo, e esta é a razão pela qual nas histórias de fadas a pessoa má sempre perde. Não é o fato de a virtude vencer no final que promove a moralidade, mas do herói se atraente para a criança, que se identifica com ele em todas as suas lutas. 
O conto de fadas oferece materiais de fantasias que sugerem a criança, sob forma simbólica, o significado de toda batalha para conseguir uma auto-realização, e garante um final feliz.

Referência:
Introdução á literatura para Crianças e Jovens - Os contos de fadas

terça-feira, 19 de abril de 2011

Leitura e formação do gosto (por uma pedagogia do desafio do desejo)

Maria Mortatti

Maria do Rosário Longo Mortatti é professora da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP – Marília) e importante pesquisadora da história do ensino da leitura e da escrita no Brasil.

Aprende-se a ler e a gostar de ler, aprende-se a ter satisfação com a leitura; aprende-se a acompanhar modismos de leitura; aprende-se a ter critérios e opiniões de leitura; aprende-se a julgar valores estéticos. A tudo isso se aprende lendo. Dentro e fora da escola.  A necessidade por parte dos alunos é imensa, e é preciso ensinar os alunos a gostar de ler, pois é lendo que se aprende a diversidade.
Podemos pensar que o gosto pela leitura da literatura desempenha importante função de desenvolvimento. É necessário que a aprendizagem signifique um desafio de conhecer o que não se sabe – o novo.
A imitação esta presente em todo processo de aprendizagem, e é dessa maneira que a criança aprende e penetra na vida social, e é dessa maneira que aprende a falar, a interagir no seu grupo, a satisfazer necessidades básicas. Valorizar o aluno e auxiliá-lo. È pela leitura que se conhecem e prendem os conteúdos de ensino; é pela leitura que se conhece e aprende, portanto, também a leitura. O texto literário pode contribuir para a formação do sujeito-leitor porque consegue atuar em zonas profundas, proporcionado a superação de conflitos internos e mobilizando a imaginação para a superação de problemas e de outras ordens. O texto literário lida com necessidades de imaginação e fantasias, onde se criam e se seguem regras voluntárias para satisfação do desejo.
Se o gosto se aprende, pode ser ensinado. Tudo que vem sendo e vai ser dito sobre a leitura da literatura precisa fazer parte da vida do professor.
Significa também que é preciso trazer a leitura para sala de aula para despertar o sabor de ler; que é preciso propiciar com condições para o prazer com satisfação de necessidades, para consciência da moda e do aspecto social da leitura e do gosto. Saber por que o aluno ou professor gosta deste ou daquele tipo de texto é um caminho importante a ser explorado. O professor é, concomitantemente, alguém que participa ativamente desse processo; alguém que ler, estuda, expõe sua leitura e seu gosto, tendo para com o texto a mesma sensibilidade e atitude critica que propõe a seus alunos.
A formação do gosto não se baseia em exercícios escolares de interpretação. É um conhecer para gostar. É um conhecer para agir.



terça-feira, 12 de abril de 2011

Três Tesouros Perdidos

Uma tarde, eram quatro horas, o sr. X… voltava à sua casa para jantar. O apetite que levava não o fez reparar em um cabriolé que estava parado à sua porta. Entrou, subiu a escada, penetra na sala e… dá com os olhos em um homem que passeava a largos passos como agitado por uma interna aflição.
Cumprimentou-o polidamente; mas o homem lançou-se sobre ele e com uma voz alterada, diz-lhe:
— Senhor, eu sou F…, marido da senhora Dona E…
— Estimo muito conhecê-lo, responde o sr. X…; mas não tenho a honra de conhecer a senhora Dona E…
— Não a conhece! Não a conhece! … quer juntar a zombaria à infâmia?
— Senhor!…
E o sr. X… deu um passo para ele.
— Alto lá!
O sr. F… , tirando do bolso uma pistola, continuou:
— Ou o senhor há de deixar esta corte, ou vai morrer como um cão!
— Mas, senhor, disse o sr. X…, a quem a eloqüência do sr. F… tinha produzido um certo efeito, que motivo tem o senhor?…
— Que motivo! É boa! Pois não é um motivo andar o senhor fazendo a corte à minha mulher?
— A corte à sua mulher! não compreendo!
— Não compreende! oh! não me faça perder a estribeira.
— Creio que se engana…
— Enganar-me! É boa! … mas eu o vi… sair duas vezes de minha casa…
— Sua casa!
— No Andaraí… por uma porta secreta… Vamos! ou…
— Mas, senhor, há de ser outro, que se pareça comigo…
— Não; não; é o senhor mesmo… como escapar-me este ar de tolo que ressalta de toda a sua cara? Vamos, ou deixar a cidade, ou morrer… Escolha!
Era um dilema. O sr. X… compreendeu que estava metido entre um cavalo e uma pistola. Pois toda a sua paixão era ir a Minas, escolheu o cavalo.
Surgiu, porém, uma objeção.
— Mas, senhor, disse ele, os meus recursos…
— Os seus recursos! Ah! tudo previ… descanse… eu sou um marido previdente.
E tirando da algibeira da casaca uma linda carteira de couro da Rússia, diz-lhe:
— Aqui tem dois contos de réis para os gastos da viagem; vamos, parta! parta imediatamente. Para onde vai?
— Para Minas.
— Oh! A pátria do Tiradentes! Deus o leve a salvamento… Perdôo-lhe, mas não volte a esta corte… Boa viagem!
Dizendo isto, o sr. F… desceu precipitadamente a escada, e entrou no cabriolé, que desapareceu em uma nuvem de poeira.
O sr. X… ficou por alguns instantes pensativo. Não podia acreditar nos seus olhos e ouvidos; pensava sonhar. Um engano trazia-lhe dois contos de réis, e a realização de um dos seus mais caros sonhos. Jantou tranqüilamente, e daí a uma hora partia para a terra de Gonzaga, deixando em sua casa apenas um moleque encarregado de instruir, pelo espaço de oito dias, aos seus amigos sobre o seu destino.
No dia seguinte, pelas onze horas da manhã, voltava o sr. F… para a sua chácara de Andaraí, pois tinha passado a noite fora.
Entrou, penetrou na sala, e indo deixar o chapéu sobre uma mesa, viu ali o seguinte bilhete:
“Meu caro esposo! Parto no paquete em companhia do teu amigo P… Vou para a Europa. Desculpa a má companhia, pois melhor não podia ser. — Tua E…”
Desesperado, fora de si, o sr. F… lança-se a um jornal que perto estava: o paquete tinha partido às oito horas.
— Era P… que eu acreditava meu amigo… Ah! maldição! Ao menos não percamos os dois contos! Tornou a meter-se no cabriolé e dirigiu-se à casa do sr. X…, subiu; apareceu o moleque.
— Teu senhor?
— Partiu para Minas.
O sr. F… desmaiou.
Quando deu acordo de si estava louco… louco varrido!
Hoje, quando alguém o visita, diz ele com um tom lastimoso:
— Perdi três tesouros a um tempo: uma mulher sem igual, um amigo a toda prova, e uma linda carteira cheia de encantadoras notas… que bem podiam aquecer-me as algibeiras!…
Neste último ponto, o doido tem razão, e parece ser um doido com juízo.
***
Conto de Machado de Assis
Conto originalmente publicado em A Marmota (1858)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Monteiro Lobato


A 18 de abril de 1882 em Taubaté, estado de São Paulo, nasce o filho de José Bento Marcondes Lobato e Olímpia Augusta Monteiro Lobato. Recebe o nome de José Renato Monteiro Lobato, que por decisão própria modifica mais tarde para José Bento Monteiro Lobato desejando usar uma bengala do pai gravada com as iniciais J. B. M. L.
Lobato escreveu obras de grande imaginação que se tornaram populares entre o público de todas as idades, fazendo a alegria de todos. Grande nacionalista preocupava-se com os problemas do país e o futuro deste tendo escrito além de ficção e várias outras sobre questões sociais, econômicas e políticas como Choque das Raças e Urupês.
Valendo-se de uma linguagem simples onde realidade e fantasia fundem-se, tornou-se o precursor da literatura infantil no Brasil. Sua obra mais famosa, Sítio do Pica Pau Amarelo, mostra um universo mágico em que os problemas do Brasil são tratados de forma metafórica ganhando uma versão para a televisão na década de 1970 que encanta crianças até hoje. È nesse cenário que se desenvolve grande parte da obra infantil de Lobato, tendo Emília, Visconde de Sabugosa, Dona Benta, Tia Nastácia, Pedrinho, Narizinho, Saci e Cuca como personagens principais.

O orgulhoso

Monteiro Lobato



Era um jequitibá enorme, o mais importante da floresta.  Mas orgulhoso e gabola.  Fazia pouco das árvores menores e ria-se com desprezo das plantinhas humildes.  Vendo a seus pés uma tabua disse:
          — Que triste vida levas, tão pequenina, sempre à beira d’água, vivendo entre saracuras e rãs…  Qualquer ventinho te dobra.  Um tisio que pouse em tua haste já te verga que nem bodoque.  Que diferença entre nós! A minha copada chega às nuvens e as minhas folhas tapam o sol.  Quando ronca a tempestade, rio-me dos ventos e divirto-me cá do alto a ver os teus apuros.
          — Muito obrigada! Respondeu a tabua ironicamente.  Mas fique sabendo que não me queixo e cá à beira d’água vou vivendo como posso.  Se o vento me dobra, em compensação não me quebra e, cessado o temporal, ergo-me direitinha como antes.  Você, entretanto…
          — Eu, que?
          — Você jequitibá tem resistido aos vendavais de até aqui; mas resistirá sempre?  Não revirará um dia de pernas para o ar?
          — Rio-me dos ventos como rio-me de ti, murmurou com ar de desprezo a orgulhosa árvore.
          Meses depois, na estação das chuvas, sobreveio certa noite uma tremenda tempestade.  Raios coriscavam um atrás do outro e o ribombo dos trovões estremecia a terra.  O vento infernal foi destruindo tudo quanto se opunha à sua passagem.
          A tabua, apavorada, fechou os olhos e curvou-se rente ao chão.  E ficou assim encolhidinha até que o furor dos elementos se acalmasse e uma fresca manhã de céu limpo sucedesse aquela noite de horrores.  Ergueu, então, a haste flexível e pode ver os estragos da tormenta.  Inúmeras árvores por terra, despedaçadas, e entre as vítimas o jequitibá orgulhoso, com a raizana colossal à mostra…
 ***

Em:  Criança Brasileira, Theobaldo Miranda Santos, Quarto Livro de Leitura: de acordo com os novos programas do ensino primário.  Rio de Janeiro, Agir: 1949. 

O cavalo e o burro

Monteiro Lobato



 O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade.  O cavalo contente da vida, folgando com uma carga de quatro arrobas apenas, e o burro — coitado!  gemendo sob o peso de oito.  Em certo ponto, o burro parou e disse:
          — Não posso mais!  Esta carga excede às minhas forças e o remédio é repartirmos o peso irmãmente, seis arrobas para cada um.
        O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada.
        — Ingênuo!  Quer então que eu arque com seis arrobas quando posso tão bem continuar com as quatro?  Tenho cara de tolo?
        O burro gemeu:
         — Egoísta,  Lembre-se que se eu morrer você terá que seguir com a carga de quatro arrobas e mais a minha.
         O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso.  Logo adiante, porém, o burro tropica, vem ao chão e rebenta. 
        Chegam os tropeiros, maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas do burro sobre as quatro do cavalo egoísta.  E como o cavalo refuga, dão-lhe de chicote em cima, sem dó nem piedade. 
         — Bem feito!  exclamou o papagaio.  Quem mandou ser mais burro que o pobre burro e não compreender que o verdadeiro egoísmo era aliviá-lo da carga em excesso?  Tome!  Gema dobrado agora…
*** 
Em:  Criança Brasileira, Theobaldo Miranda Santos, Quarto Livro de Leitura: de acordo com os novos programas do ensino primário.  Rio de Janeiro, Agir: 1949. 

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A menina dos fósforos

Hans Christian Andersen era filho de um sapateiro e sua família morava num único quarto. Apesar das dificuldades, ele aprendeu a ler desde muito cedo e adorava ouvir histórias.
A infância pobre deu a Andersen a chance de conhecer os contrastes de sua sociedade, o que influenciou bastante as histórias infantis e adultas que viria a escrever. Em 1816, seu pai morreu e ele, com apenas 11 anos, precisou abandonar a escola, mas já demonstrava aptidão para o teatro e a literatura.

Em 1828, entrou na Universidade de Copenhague e já publicava diversos livros, mas só alcançou o reconhecimento internacional em 1835, quando lançou o romance "O Improvisador".
Graças à sua contribuição para a literatura para a infância e adolescência, a data de seu nascimento, 2 de abril, é hoje o Dia Internacional do Livro Infanto-Juvenil. Além disso, o mais importante prêmio internacional do gênero leva seu nome.
Anualmente, a International Board on Books for Young People (IBBY) oferece a Medalha Hans Christian Andersen para os maiores nomes da literatura infanto-juvenil. A primeira representante brasileira a ganhá-la foi Lygia Bojunga, em 1982.


O conto retrata a histório de uma menina humilde que vendia fósforo para ajudar a familía. Na noite de Ano Novo, foi vagando pelas ruas afim de vender seus fósforos. Apesar do frio que sentia, não podia voltar pra casa sem vende-los, pois se voltasse, seria espancada pelo pai pelo fato de nao ter conseguido um tostão.
Como o frio era muito grande, aos poucos começou a acender os fósforoa para se aquecer, até que de repente, conmeçou a ver sua avó, que a amou muito, mas já tinha falecido. Quando o fogo apagava, a imagem desaparecia, foiaí que a menina acendeu muitos fósforo de uma vez só e quando sua avó apareceu, a menina pediu que a levasse com ela. E assim foi feito. No dia seguinte, o sol do novo ano se levantou sobre um pequeno cadáver e as pessoas que por ela passavam, diziam: "A criança lá ficou, paralisada, um feixe inteiro de fósforos queimados. - Queria aquecer-se". Mas não imaginavam a felicidade que a menina estava sentindo em estar com a avó.
Esse conto nos faz refletir questões importantes como: o abandono, a miséria, a fome, a indiferença, a inveja, a exclusão.
É importante que pensemos nessas questões e no que podemos fazer para ajudar a tornar a vida do nosso próximo e por conseqüência, a nossa melhor.
Que as pequenas e os pequenos vendedores de fósforo tenham histórias lindas, cheias de amor, compaixão, ajuda, carinho e felicidade.

A menina dos fósforos

Fazia um frio terrível; caía a neve e estava quase escuro; a noite descia: a última noite do ano.
Em meio ao frio e à escuridão uma pobre menininha, de pés no chão e cabeça descoberta, caminhava pelas ruas.
Quando saiu de casa trazia chinelos; mas de nada adiantavam, eram chinelos tão grandes para seus pequenos pézinhos, eram os antigos chinelos de sua mãe.
A menininha os perdera quando escorregara na estrada, onde duas carruagens passaram terrivelmente depressa, sacolejando.
Um dos chinelos não mais foi encontrado, e um menino se apoderara do outro e fugira correndo.

Depois disso a menininha caminhou de pés nus - já vermelhos e roxos de frio.
Dentro de um velho avental carregava alguns fósforos, e um feixinho deles na mão.
Ninguém lhe comprara nenhum naquele dia, e ela não ganhara sequer um níquel.
Tremendo de frio e fome, lá ia quase de rastos a pobre menina, verdadeira imagem da miséria!
Os flocos de neve lhe cobriam os longos cabelos, que lhe caíam sobre o pescoço em lindos cachos; mas agora ela não pensava nisso.
Luzes brilhavam em todas as janelas, e enchia o ar um delicioso cheiro de ganso assado, pois era véspera de Ano-Novo.
Sim: nisso ela pensava!
Numa esquina formada por duas casas, uma das quais avançava mais que a outra, a menininha ficou sentada; levantara os pés, mas sentia um frio ainda maior.
Não ousava voltar para casa sem vender sequer um fósforo e, portanto sem levar um único tostão.
O pai naturalmente a espancaria e, além disso, em casa fazia frio, pois nada tinham como abrigo, exceto um telhado onde o vento assobiava através das frinchas maiores, tapadas com palha e trapos.

Contos, fabulas e historinhas: A Pequena Vendedora de Fósforos
Suas mãozinhas estavam duras de frio.
Ah! bem que um fósforo lhe faria bem, se ela pudesse tirar só um do embrulho, riscá-lo na parede e aquecer as mãos à sua luz!
Tirou um: trec! O fósforo lançou faíscas, acendeu-se.
Era uma cálida chama luminosa; parecia uma vela pequenina quando ela o abrigou na mão em concha...
Que luz maravilhosa!
Com aquela chama acesa a menininha imaginava que estava sentada diante de um grande fogão polido, com lustrosa base de cobre, assim como a coifa.
Como o fogo ardia! Como era confortável!
Mas a pequenina chama se apagou, o fogão desapareceu, e ficaram-lhe na mão apenas os restos do fósforo queimado.
Riscou um segundo fósforo.
Ele ardeu, e quando a sua luz caiu em cheio na parede ela se tornou transparente como um véu de gaze, e a menininha pôde enxergar a sala do outro lado. Na mesa se estendia uma toalha branca como a neve e sobre ela havia um brilhante serviço de jantar. O ganso assado fumegava maravilhosamente, recheado de maçãs e ameixas pretas. Ainda mais maravilhoso era ver o ganso saltar da travessa e sair bamboleando em sua direção, com a faca e o garfo espetados no peito!
Então o fósforo se apagou, deixando à sua frente apenas a parede áspera, úmida e fria.
Acendeu outro fósforo, e se viu sentada debaixo de uma linda árvore de Natal. Era maior e mais enfeitada do que a árvore que tinha visto pela porta de vidro do rico negociante. Milhares de velas ardiam nos verdes ramos, e cartões coloridos, iguais aos que se vêem nas papelarias, estavam voltados para ela. A menininha espichou a mão para os cartões, mas nisso o fósforo apagou-se. As luzes do Natal subiam mais altas. Ela as via como se fossem estrelas no céu: uma delas caiu, formando um longo rastilho de fogo.
"Alguém está morrendo", pensou a menininha, pois sua vovozinha, a única pessoa que amara e que agora estava morta, lhe dissera que quando uma estrela cala, uma alma subia para Deus.
Ela riscou outro fósforo na parede; ele se acendeu e, à sua luz, a avozinha da menina apareceu clara e luminosa, muito linda e terna.
- Vovó! - exclamou a criança.
- Oh! leva-me contigo!
Sei que desaparecerás quando o fósforo se apagar!
Dissipar-te-ás, como as cálidas chamas do fogo, a comida fumegante e a grande e maravilhosa árvore de Natal!
E rapidamente acendeu todo o feixe de fósforos, pois queria reter diante da vista sua querida vovó. E os fósforos brilhavam com tanto fulgor que iluminavam mais que a luz do dia. Sua avó nunca lhe parecera grande e tão bela. Tornou a menininha nos braços, e ambas voaram em luminosidade e alegria acima da terra, subindo cada vez mais alto para onde não havia frio nem fome nem preocupações - subindo para Deus.
Mas na esquina das duas casas, encostada na parede, ficou sentada a pobre menininha de rosadas faces e boca sorridente, que a morte enregelara na derradeira noite do ano velho.
O sol do novo ano se levantou sobre um pequeno cadáver.
A criança lá ficou, paralisada, um feixe inteiro de fósforos queimados. - Queria aquecer-se - diziam os passantes.
Porém, ninguém imaginava como era belo o que estavam vendo, nem a glória para onde ela se fora com a avó e a felicidade que sentia
no dia do Ano­ Novo.
Contos, fabulas e historinhas: A Pequena Vendedora de Fósforos

A Bela e a Fera

Era uma vez um jovem príncipe que vivia no seu lindo castelo. Apesar de toda a sua riqueza ele era muito egoísta e não tinha amigos.
Numa noite chuvosa recebeu a visita de uma velhinha que lhe pediu abrigo só por aquela noite.
Com um enorme mal humor ele se recusou a ajudar a velhinha. Porém, o que ele não sabia é que aquela velhinha era uma bruxa disfarçada, que já ouvira diversas histórias sobre o egoísmo daquele jovem príncipe. Indignada com a sua atitude, ela lançou sobre ele um feitiço que o transformara numa fera horrível. Todos os seus criados haviam se transformado em objetos. O encanto só poderia ser desfeito se ele recebesse um beijo de amor.
Enquanto isso, numa vila distante dali, vivia um comerciante com sua filha chamada Bela. Eles eram pobres, mas muito felizes.
Bela adorava livros, histórias, vivia a contá-las para as crianças da vila. Seu pai, Maurício, era comerciante e viajava muito comparando e vendendo seus produtos diversos.
Um dia voltando de uma longa viajem, Maurício foi pego de surpresa por uma forte tempestade, passou em frente a um castelo que parecia abandonado e resolveu pedir acolhida. Bateu à porta, mas ninguém o atendeu. Como a porta do castelo estava aberta resolveu entrar se proteger da chuva. Acendeu a lareira e encontrou uma garrafa de vinho sobre a mesma. Após bebê-la acabou adormecendo. No dia seguinte uma Fera furiosa apareceu diante dele. Quis castigá-lo por invadir o seu castelo e assim, o fez prisioneiro. A Fera decretou ao velho comerciante que este morreria por tal invasão. Aterrorizado, o pobre homem suplicou:
- Deixa que me despeça da minha filha.
A Fera concedeu-lhe o pedido. De volta a sua casa, contou o ocorrido a sua filha. Sem medo, ela decidiu voltar ao palácio com o pai.
Uma vez no palácio da Fera, Bela tomou coragem e fez uma proposta:
- Deixa meu pai ir embora. Eu ficarei no lugar dele.
A Fera concordou, e o pobre comerciante foi embora desolado.
A jovem permaneceu com a Fera no castelo, mas não era mantida na prisão, podia ficar em um quarto ou na biblioteca, local que muito a agradava.
Bela tinha medo de morrer, mas percebia que a Fera a tratava bem a cada dia que passava.
Contos, fabulas e historinhas: A Bela e a Fera
Com o passar do tempo o monstro e a Bela foram ficando mais amigos. Ele se encantava com a forma que a moça via o mundo, as pessoas, a natureza. Sentia que ela o via de uma forma diferente, além da sua aparência.
A Fera enfim havia se apaixonado, de verdade. Numa noite, ao jantarem, pediu-a em casamento. Bela não aceitou, mas ofereceu sua amizade.
Apesar da tristeza, a Fera, aceitou o desejo da Bela.
Bela , por sua vez, passava dias muito agradáveis no castelo, sentia-se bem lá, porém com muitas saudades do seu pobre pai.
Certo dia dia, Bela pediu permissão à Fera para visitar o seu pai.
- Voltarei logo - prometeu.
A Fera, que nada lhe podia negar, a deixou partir. Bela passou muitos dias cuidando de seu pai, que estava doente, tinha envelhecido de tristeza pensando que tinha perdido a filha para sempre.
Quando Bela retornou ao palácio, encontrou a Fera no chão meio morta de saudade por sua ausência. Então Bela soube o quanto era amada.
Bela se desesperou, também sentia um algo forte pela Fera. Amizade, amor, compaixão.
- Não morras, caso-me contigo - disse-lhe chorando.
Comovida, a Bela beijou a Fera... e nesse momento o monstro transformou-se num belo príncipe. Enfim, o encanto havia se desfeito. A Fera encontrou alguém que o amava de verdade, além da sua aparência grotesca.
Afinal, a verdadeira beleza está no coração!


Contos, fabulas e historinhas: A Bela e a Fera

sábado, 2 de abril de 2011

Tchau

Conto de Lygia Bojunga

Escritora brasileira, escreveu inicialmente os seus livros sob o nome Lygia Bojunga Nunes. Nasceu em Pelotas no dia 26 de agosto de 1932 e cresceu numa fazenda. Aos oito anos de idade foi para o Rio de Janeiro onde em 1951 se tornou atriz numa companhia de teatro que viajava pelo interior do Brasil.  Trabalhou durante muito tempo para o rádui e a televisão, antes de debutar como escritora de livros infantis em 1972.
As obras de Bojunga estão traduzidas para várias línguas, entre as quais francês, alemão, espanhol, norueguês, sueco, hebraico, italiano, búlgaro, checo e islandês. Recebeu vários prêmios, entre eles, o Prêmio Jabuti (1973), a primeira representante brasileira a ganhar o prestigiado Prêmio Hans Christian Andersen (1982), o Prêmio da Literatura Rattenfänger (1986) e o Prêmio Astrid Lindgren Memorial Award (2004).
Em seu livro “TCHAU”, a autora traz a história de uma família, em que a mãe está apaixonada por outro homem e então decidi se separar do marido e, consequentemente, dois filhos pois o homem por qual ela se apaixonou não quer que ela os levem. A mãe conversa com sua filha, Rebeca, implora a mãe para não fazer isso.
Em meios aos conflitos da separação, está Rebeca, que finge não está compreendendo o que se passa em sua volta. Ao deparar – se com o pai em estado de dar pena, Rebeca resolve prometer ao pai que não deixará a mãe ir embora.
No final do conto, quando a mãe está indo embora, Rebeca puxa a mala impedindo-a de sair.
Rebeca aproveitou a distração da mãe, para se agarrar na mala de um jeito que pra mãe levantar a mala ia ter que levantar a Rebeca também. E a buzina do taxi que a levaria tocou.
A mãe abriu o olho (parecia que a tonteira tinha passado), disse:
- Tchau. - E saiu correndo.
Rebeca deixa o seguinte bilhete para o pai:
Querido pai
Não deu para eu cumprir a promessa, a mãe foi mesmo embora.
Mas a mala dela ficou. E eu acho que assim, sem mala, sem roupa pra tocar, sem escova de dente nem nada, não vai dar para a mãe ficar muito tempo sem voltar. Não sei. Vamos ver.
Eu arrastei a mala e escondi ela debaixo da sua cama, viu?
Um beijo da
Rebeca.
 
Nesse conto, podemos perceber a separação dos pais na visão dos próprios filhos, ainda mais quando esses ainda são crianças. É importante que a criança saiba o que estar acontecendo ao seu redor e ao seu modo, ela vai compreendendo a situação familiar pela qual está passando.

Referência:

Tchau – São Paulo, SP: Livraria AGIR Editora, 1984